O Evangelho de João, no capítulo 20, versículos 1-2 e 11-18, descreve a descoberta do túmulo vazio por Maria Madalena e sua subsequente aparição de Jesus ressuscitado. Este trecho é fundamental para a fé cristã, pois relata a primeira aparição de Cristo após sua ressurreição. Vamos analisar esses versículos com profundidade, trazendo à tona comentários da patrística e de alguns santos.
João 20,1-2
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do túmulo. Correu, então, e foi a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: ‘Tiraram do túmulo o Senhor, e não sabemos onde o puseram’.”
Comentários Patristicos
Santo Agostinho comenta que Maria Madalena, ao ir ao túmulo de madrugada, simboliza a busca ansiosa e amorosa pela presença do Senhor. Ele destaca a importância da perseverança na fé, mesmo quando a situação parece sombria e incerta.
São Gregório Magno interpreta a escuridão da madrugada como a escuridão da fé dos discípulos após a crucificação de Jesus. Maria Madalena, indo ao túmulo enquanto ainda está escuro, representa a alma que busca a luz de Cristo mesmo nas trevas da dúvida e do desespero.
João 20,11-18
“Maria, entretanto, estava junto ao túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles lhe disseram: ‘Mulher, por que choras?’ Ela lhes respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.’ Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: ‘Mulher, por que choras? A quem procuras?’ Ela, pensando que fosse o jardineiro, disse-lhe: ‘Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.’ Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’ Voltando-se ela, disse-lhe em hebraico: ‘Rabbuni!’ (que quer dizer: Mestre). Disse-lhe Jesus: ‘Não me detenhas, porque ainda não subi para o Pai; mas vai ter com meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.’ Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: ‘Vi o Senhor!’ E contou o que ele lhe dissera.”
Comentários Patristicos
Santo Agostinho destaca a profundidade da devoção de Maria Madalena, que permaneceu junto ao túmulo chorando, demonstrando seu amor e sua tristeza pela ausência de Jesus. Ele interpreta os dois anjos como símbolos dos dois testamentos da Escritura que testemunham a ressurreição de Cristo.
São Gregório Magno observa que Maria Madalena não reconhece Jesus imediatamente, o que reflete a dificuldade de muitos em perceber a presença do Cristo ressuscitado em suas vidas. A menção de Jesus como “jardineiro” tem um simbolismo profundo, pois ele é o novo Adão, o cultivador do novo Éden, o Jardim da Ressurreição.
Reflexões dos Santos
Santa Teresa de Ávila reflete sobre a experiência mística de Maria Madalena ao encontrar o Cristo ressuscitado. Para ela, esse encontro simboliza a experiência íntima da alma com Deus, onde o chamado pessoal de Jesus (“Maria!”) é uma representação da chamada divina que cada alma recebe.
São João da Cruz interpreta o “Não me detenhas” como um convite à fé e ao amor que vai além da presença física. Ele vê neste encontro a transição da relação física e humana com Jesus para uma relação espiritual e mística mais profunda.
Conclusão
Este trecho do Evangelho de João é profundamente rico em simbolismo e espiritualidade. Maria Madalena, como a primeira testemunha da ressurreição, é uma figura central que representa a busca incessante pela presença de Cristo e a experiência mística do encontro com o Ressuscitado. Os comentários dos Padres da Igreja e dos santos nos ajudam a aprofundar a compreensão deste momento fundamental da fé cristã, mostrando a importância da perseverança, da devoção e da transformação espiritual.